NIETZSCHE - Foi um filósofo alemão conhecido por seus pensamentos agudos, ousados, inovadores e, de certo modo, estoicos sobre a existência do homem no mundo. O foco central da sua filosofia era a "afirmação da vida" contra qualquer tipo de "doença psicológica" que inviabilize a expansão das energias humanas. A clássica e super-citada frase "O que não te mata, fortalece" resume bem a predileção do filósofo de Röcken pelas histórias de superação de si mesmo.
No último domingo, quando Takuma Sato cruzou a trilha de tijolos e venceu a corrida mais importante do mundo, Nietzsche me veio instantaneamente à memória. Quando eu era menino e lia as páginas dos livros aforismáticos do filósofo, muito mais do que a leitura de suas discordâncias sobre os pensamentos dos pensadores anteriores ou contemporâneos a ele, eu adorava ler suas reflexões sobre a necessidade de existir os caminhos árduos para a formação de um grande homem, de um grande artista e, adaptando para o automobilismo, de um grande piloto.
Não que a vitória na Brickyard tenha transformado Takuma Sato em um piloto acima da média. Não, não é isso. Sato sempre será Sato, para o bem do automobilismo mundial (sim, eu gosto de pilotos que erram por excessos), o que mudou nesse caso atual é a relação entre o Sato que perdeu as 500 Milhas de Indianapolis para Dario Franchitti em 2012 e o Sato que ganhou as 500 Milhas de Indianapolis em cima do tricampeão Helio Castroneves.
Quando a bandeira branca foi acionada, quando os carros sobreviventes a essa acidentada prova de 500 Milhas adentraram a última volta e Sato tomou consciência da posição onde novamente ele estava (a quatro quilômetros da maior conquista de toda história do automobilismo japonês) um flashback invadiu por segundos sua cabeça. Uma vitória esperada não marca a vida de um piloto tanto quanto é marcante para uma carreira a derrota inesperada, o fracasso evitável, o erro no cálculo da ultrapassagem que lhe dará a glória. "A dor ensina, a dor educa, a dor engrandece quem a recebe" talvez diria Nietzsche se estivesse assistindo com seu hot-dog em punho a façanha do Samurai Voador.
Por duzentas voltas Sato foi brilhante na condução de sua máquina, foi ousado em muitos movimentos contra adversários veteranos na briga por posições (inclusive fazendo uma manobra muito parecida com aquela que o fez perder 2012, foi na ultrapassagem sobre Chilton pela linha de fora na Curva 1). A dor da derrota há 5 anos atrás trouxe uma sabedoria para que ele hoje conquistasse a Velha Indy pela primeira vez. Soube se manter a todo instante dentro do TOP 5 da corrida e, mais importante, construiu como um Shakespeare oriental o elemento dramático para cada uma de suas defesas contra as investidas do excepcional Helio Castroneves.
Você pode zoar o Helio por tudo que ele passou em 20 anos de Penske, pode trollar a questão fiscal com a justiça americana, relembrar o problema dele com Fittipaldi, enfim, você pode, estamos em um mundo livre para opiniões também sobre Indy. A única coisa que você não pode é negar que Indianapolis sempre foi apaixonada por esse brasileiro: 3 vitórias, 3 segundo lugar e 6 poles. A pista escolheu ele para ser um de seus filhos e a quarta vitória é questão de tempo, a Velha Indy deixa isso bem claro! Um fenômeno do oval de Indiana que valoriza ainda mais a glória de Sato.
Aos amigos indyanistas, deixo então uma grande mensagem de Nietzsche:
- "A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de auto-confiança, e a desgraça dos derrotados."
- "A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de auto-confiança, e a desgraça dos derrotados."
Friedrich Nietzsche