sábado, 25 de junho de 2016

A magia das pistas ovais (ou Crônica de um viciado em curvas só para a esquerda)

(Sete carros lado a lado em Pocono 500 de 2015)

ALÉM DO FALSO ESQUERDISMO - Eu falo em nome do verdadeiro radicalismo esquerdista, aquele nascido nos hipódromos de terra batida com os ginetes montados em seus pangarés de diversas raças disputando lado a lado as glórias que hoje não valem mais nada e são meras lembranças fotografadas, ou narradas, meras recordações mumificadas nos caixões das memórias onde jazem sem nós, no passado, heróis e espectadores. Entretanto, vem de lá nossa extensa obsessão por corridas em pistas com grandes retas e curvas só para o lado esquerdo, vem da tradição dos hipódromos americanos do século 19.


A luta que amamos assistir durante uma corrida em oval não se resume só a disputa de posição entre o carro do nosso piloto favorito e os carros dos seus rivais; o desafio assustador de controlar um carro de roda-aberta nas curvas dos super-ovais, desafiando os riscos da força centrífuga e da força centrípeta a mais de 370km/h e durante 200 voltas, é um dos mais deliciosos detalhes que movem nossa paixão no momento que estacionamos nossos corpos diante do televisor para assistir uma 500 milhas de Indianapolis.


Alegam os que carregam um desnecessário ódio mortal contra as pistas ovais que "virar sempre pro mesmo lado é fácil demais, quero ver ter a mesma habilidade para fazer a Eau Rouge de pé cravado". Blasfemam, intolerantes que são, contra as velocidades extremas dos traçados simples de Indianapolis, Pocono, Fontana e Michigan para louvar os supostos "templos verdadeiros" do automobilismo mundial, que, na verdade, atualmente, não passam de circuitos mistos clássicos recauchutados, adulterados e estuprados por arquitetos de mãos torpes, censurados por ditadores da segurança sem fim, traçados recortados para atender e satisfazer uma geração incapaz de aceitar as emoções que um traçado primitivo proporciona durante uma única corrida para 350 mil pessoas de corpo presente. 


Mas nós, os indyanistas que resistem, os adoradores dos malignos traçados ovais, nós amamos a sensação de tensão antes de cada largada no Texas Motor Speedway ou em Iowa. Quando a bandeira verde é acionada em Pocono ou Indianapolis uma cadeia de pensamentos surge na consciência do indyanista e as memórias de tragédias e superações do passado vão se misturando incessantes por mais de duas horas deitados sem riscos nenhum no sofá da sala ou diante de uma tela de PC ou Notebook. 


Sempre foi um tipo de corrida extremamente perigosa desde 1905 e, até hoje dentro do automobilismo, ainda são as corridas de Indy nos super-ovais as mais temidas para qualquer piloto profissional que guia carros velozes de qualquer estirpe. Quando alguém pergunta a um campeão de F1, tipo Vettel ou Alonso (como fez um jornalista recentemente por causa da centésima edição das 500 Milhas), a resposta costuma ressaltar como é perigosa uma corrida em oval e que o medo impede por vezes a tentativa.

Medo e angústia, suor e sangue, tragédia e glória, dor e prazer, todos os elementos da vida cotidiana correndo juntos no asfalto que separa e une vida e morte, o glorioso e o fracassado, o mito e o rookie. As histórias da Indy, em suas corridas nos super-ovais, ainda conseguem construir, em pleno 2016, uma narrativa elegante que só são encontradas nas tragédias gregas. 


A tragédia clássica deve cumprir, segundo Aristóteles, três passos:
- possuir personagens de elevada condição (
heróisreis, deuses),
- ser contada em linguagem elevada e digna 

- ter um final triste, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ao tentar se rebelar contra as forças do destino.


Os três elementos que a Indy HOJE tem de sobras!!!

Esqueçam Marx, o verdadeiro esquerdismo nasceu em Indianapolis!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Todos os vencedores da Indy em Road America (ou "Elkhart Lake" como ficou conhecida entre os brasileiros)


ENTRE TANTOS AUTÓDROMOS NOS ESTADOS UNIDOS - Road America é, sem dúvida, o circuito misto mais adorado pela maioria dos fãs da categoria (e de outras categorias também). Nenhum outro retorno para o calendário da Indy teria sido tão aguardado e incentivado quanto esse foi. Podemos sem medo dizer que Road America está para os circuitos mistos assim como Indianapolis está para as pistas ovais americanas. 



 A pista está localizada próximo a vila de Elkhart Lake no Condado de Sheboygan no Estado do Wisconsin e foi inaugurada em 1955. A primeira corrida de Indy aconteceu em 1982, no dia 19 de Setembro. De lá pra cá, tivemos corridas sem interrupções até 2004. No ano seguinte não teve prova e a Indy, sancionada pela CCWS, retornou à Road America para suas últimas duas corridas nos anos de 2006 e 2007. 

No total foram 25 eventos de Indy e três pilotos conquistaram três vitórias: Michael Andretti, Emerson Fittipaldi e Mario Andretti. 

O desempate entre eles se dá na quantidade de TOP 5 que cada um conseguiu ao longo da carreira correndo em Road America. Michael, então, se destaca na primeira colocação por ter marcado em 18 largadas no circuito quatro 2º lugar, um 4º lugar, um 5º lugar e duas poles. O brasileiro vem em segundo com 11 largadas e um 2º lugar, um 3º lugar e três 5º lugar, sem nenhuma pole. Mario Andretti fecha o pódio histórico de melhores corredores na pista de Elkhart Lake com dois 3º lugar e dois 5º lugar e mais três poles.

Em Road America também rola uma competição familiar. A Família Andretti lidera com 6 vitórias, a Família Fittipaldi vem logo atrás com 4 vitórias e a Família Villeneuve em terceiro com 3 vitórias.

Curiosidade para o dia da corrida: só Sebastien Bourdais, no grid atual, correu e venceu em Road America. Será o piloto francês, que domingo conquistou ao lado de Townsend Bell uma das classes em Le Mans, o grande favorito para conquistar sua segunda vitória no ano? 



LISTA DE TODOS OS VENCEDORES DA INDY EM ROAD AMERICA

Corrida #DataNome da CorridaMilhasVencedor
19/19/1982Road America 200200Héctor Rebaque
27/31/1983Provimi Veal 200200Mario Andretti
38/5/1984Provimi Veal 200200Mario Andretti
48/4/1985Provimi Veal 200200Jacques Villeneuve (I)
510/4/1986Race for Life 200200Emerson Fittipaldi
68/30/1987Road America 200200Mario Andretti
79/11/1988Briggs & Stratton 200200Emerson Fittipaldi
89/10/1989Road America 200200Danny Sullivan
99/23/1990Texaco/Havoline 200200Michael Andretti
109/22/1991Texaco/Havoline 200200Michael Andretti
118/23/1992Texaco/Havoline 200200Emerson Fittipaldi
128/22/1993Texaco/Havoline 200200Paul Tracy
139/11/1994Texaco/Havoline 200200Jacques Villeneuve (II)
147/9/1995Texaco/Havoline 200200Jacques Villeneuve (II)
158/18/1996Texaco/Havoline 200200Michael Andretti
168/17/1997Texaco/Havoline 200202.4Alex Zanardi
178/16/1998Texaco/Havoline 200202.4Dario Franchitti
187/11/1999Texaco/Havoline 220222.64Christian Fittipaldi
198/20/2000Motorola 220222.64Paul Tracy
208/19/2001Motorola 220182.16Bruno Junqueira
218/18/2002Grand Prix at Road America Featuring the Motorola 220242.88Cristiano da Matta
228/3/2003Mario Andretti Grand Prix at Road America Presented by Briggs & Stratton137.632Bruno Junqueira
238/8/2004Champ Car Grand Prix of Road America Presented by the Chicago Tribune194.304Alex Tagliani
249/24/2006Grand Prix of Road America206.448A. J. Allmendinger
258/12/2007Generac Grand Prix214.544Sébastien Bourdais

A corrida em Road America não será transmitida pela Band(lixo), só no Bandsports, e começará (marque na agenda) às 14h15 do dia 26/06 com 50 voltas. Existe grande chance de tempo chuvoso.

SITE OFICIAL DE ROAD AMERICAhttp://www.roadamerica.com/

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Dia dos Namorados de um Indyanista e a corrida do Texas


NÃO RARO - A data de determinada corrida da Indy caí exatamente num dia problemático para quem precisa conciliar vício em corrida de carros de Indianapolis com o cotidiano comum dos outros mortais. E isso acaba gerando muitos problemas de agenda com familiares, amigos e, principalmente, com namorada/esposa. Onde já se viu, ficar na frente da TV vendo carros feios andando em círculos por mais de três horas? E no sábado à noite? Chama o psiquiatra, diria minha santa mãezinha.

Como sou um indyanista assumido, devo confessar que sempre tive problemas para explicar que prefiro mais assistir uma corrida de Indy do que ir em festas chochas, ou que escolho sem pensar assistir uma 500 Milhas do que ir num churrasco na casa de alguém que não conhece Indy e pensa que Indy é alguma coisa de comer. Eu adoro todos meus amigos, familiares, e não tenho nada contra eles nem terem ideia do que é curtir uma corrida de carro, mas a Indy e o Santos Futebol Clube são vícios que tenho e não quero deixar de ter. Simples e direto.


Pois bem, agora que sou um homem casado, tenho lar pra tomar conta e o projeto de formar uma família com lindos filhos (sim, antes que perguntem, forçarei meu filho/filha a se tornar piloto de Indy, e se ele/ela não gostar dessa imposição reduzirei a mesada semanalmente até que mude de ideia hahahahaha) moro numa casa onde não tem a Bandeirantes e nem internet para achar um stream, por enquanto. Dessa forma, minha esposa sabe que quando tem corrida de Indy o fanático aqui precisa ir pra casa do papai onde pega a Bandeirantes/BandSports. 

Depois de um dia cansativo e estressante de trabalho no rancho Indyana, voltei pra cidade, fiz entregas, tomei um banho, comprei loiras geladas, dei um beijo na esposa gata e fui empolgado, por entre a massa de ar frio daquele dia, assistir a nona etapa do Campeonato 2016 da IndyCar Series na casa do seu Tião. 

Esperava por uma grande corrida. Minha expectativa era de vitória inédita em ovais para Josef Newgarden. Talvez Tony Kanaan ou o Caçador surpreendessem, mas enquanto dirigia a Pampa pelas ruas esburacadas da cidade pensava que esse seria o ano de afirmação do piloto da ECR contra os veteranos. Até porque ele era até aquele momento um piloto jovem de time pequeno na briga direta pelo título da categoria. Não tinha dúvidas que Josef brilharia no Texas.



Bebi uma, duas, três, quatro latinhas e nada da corrida começar. Furtei uns petiscos na geladeira e abri mais uma cerva. Nada da pista secar. Deu meia-noite e os olhos quase fechando. Bebi um litro de água para hidratar o corpo e quando pensei que não teria mais corrida... daí eles adiaram de vez. Frustrante. Bebi a cerva toda e não assisti nenhum side-by-side no banking texano de 24º. Cheguei em casa chateado, cabisbaixo, com frio e sem entender porquê minha esposa abriu a porta toda sorridente. Estranhei na hora e ela estranhou a tristeza já que sempre fico empolgado depois de uma corrida de Indy.

Enquanto eu explicava para ela os motivos do adiamento da corrida (que em pista oval não tem pneu de chuva, que não se corre de monoposto em pistas ovais molhadas, que tinha previsão de chuva para a região de Fort Worth pra todo final de semana, etc) minha amada me entregou o presente de dia dos namorados. Até aí tudo bem, eu já tinha entregue o presente dela durante a tarde e ela respondeu que entregaria no domingo o meu. Como a semana inteira ela disse que seria um perfume meus pensamentos nem suspeitavam de nada além disso. 

Daí, com o sorriso mais lindo do mundo estampado no rosto, ela me deu um embrulho que continha esse presente aqui:



Sacanagem o que essa esposa fez com meu coração indyanista! Um porta-chave com a gravura do antigo IR05 e que me lembrou na hora aquela corrida memorável de 2011 vencida pelo mito Dan Wheldon. Melhor presente de Dia dos Namorados que ganhei na vida!

As 73 voltas que aconteceram no domingo, antes de mais uma tempestade cair por toda região, deram amostras de como a corrida teria sido emocionante fosse ela completada no sábado ou no domingo. Adiar para Agosto, na minha opinião, foi a melhor escolha feita pelo Jay em parceria com o maior indyanista entre os donos de circuitos, Eddie Gossage. Sobre o acidente terrível de Josef, só lamento aqueles que ainda não perceberam que esse é o carro mais seguro do mundo das corridas ultravelozes!


Agora que venha Road America, um dos mais lindos traçados mistos do mundo! 

sábado, 11 de junho de 2016

A beleza "feia" do DW12


EU AMO - A tal "feiura" que o DW12 carrega desde que se tornou o carro oficial da Indy. Amo o monte de apêndices aerodinâmicos que dão aparência de ser um carro futurista saído de algum filme Sci-Fi dos anos 70 dirigido por Alejandro Jodorowsky chapado de LSD! A desproporcionalidade das partes, o exagero nos traços laterais assimétricos, enfim, toda a feiura que não encanta a maioria dos indyanistas cultuadores de sanções e que afasta os puristas do gosto refinado idólatras da perfeição em um carro de corridas, sim, essa feiura eu aprendi a amar em cinco temporadas incompletas.


Não sei como explicar essa minha adoração pelo DW12 a quem adorou por anos assistir corridas com Reynards e Lolas ou para quem pirou nos carros revolucionários que Dan Gurney pôs a mão e fez brilhar nas pistas do mundo, realmente não sei. Talvez fosse necessário construir uma rede complexa de explicações específicas sobre cada ponto que me fez gostar do visual dos carros da Indy moderna, porém, mesmo assim, muitos ainda olharão torto para a opinião de um ex-viúvo da CART que acha a atual categoria superior no quesito: dinâmica das corridas. 


Um dos pontos principais para que eu supervalorize a aparência rude e "defeituosa" do DW12 é o fato desse carango não ter semelhantes em outras competições. Nada se parece com ele no mundo das corridas. Pode pesquisar no Google. Daqui a 100 anos, quando seu bisneto bater o olho numa foto das 500 Milhas de 2016 para conhecer quem foi o campeão do centenário, a feiura bela do Dw12 dará muito menos choque na percepção de um garoto de 15 anos do que choca-nos admirar hoje uma foto do carro de Ray Harroun.

Nos bastidores da Indy já se comenta sobre a possibilidade de um novo chassi para 2018 e isso me preocupa muito. Acredito que o melhor para a categoria, e para as equipes, seria ficar com o nosso amado Tamanduá12 até 2020 e evoluir só a parte dos aerokits até lá; quem sabe congelando a evolução em determinados anos para cortar custos excessivos. Não penso que um novo chassi colaboraria para fortalecer a Indy nesse momento tão delicado para a Indústria de automóveis. No entanto, se Jay Frye escolher essa direção e Mark Miles e times aceitarem, que o novo chassi tenha como prioridade uma coisa especial: A AUTENTICIDADE.

O Dw12, até agora, tem um desenho único (apesar da chupação descarada do carro da Formula-E) diante de todos os outros carros de monopostos. Ele fortaleceu a identidade visual para um carro de Indianapolis e isso muitos não conseguem enxergar como benefício para a própria Indy. Ser confundido com um F1 ou com um carro da Fórmula Renault é coisa para acontecer com os carro da Indy Lights ou da Pro-Mazda, mas para um novo chassi da categoria mais veloz do planeta seus diretores precisarão focar no que pode ser singular e excêntrico para o público da categoria, priorizar o que pode chocar os olhos que observam e manter com isso a mesma magia de competitividade que o Dw12 trouxe para a história recente da Indy.

E Deuses de Indianapolis: afastai o DRS e o VSC da Indy, Amém!

CURIOSIDADE DO DIA: Você sabia que no projeto original do DW12 os times da Indy teriam dois tipos diferentes de carros? Sim, foram projetados dois carros para a temporada 2012. Um correria nos circuitos mistos, nas pistas de rua e nos ovais curtos e o outro carro (que acabou sendo adaptado para correr em mistos e rua) só correria nos ovais longos. Eis a foto de ambos. Do distante ano de 2011: à esquerda você vê o que teria sido o DW12 para mistos/rua; do lado direito está o nosso DW12 amado. Como os custos financeiros não permitiram, a ideia foi arquivada.


terça-feira, 7 de junho de 2016

O piloto mais idolatrado da IndyCar Series


IDOLATRIA - "É usualmente definida como a prática de adoração a ídolos, valores e ideias em oposição à adoração a um Deus monoteísta. A idolatria é considerada um dos maiores pecados nas religiões abraâmicas, de outro modo, em religiões onde esta atividade não é considerada como pecado. Quais imagens, ideias e objetos, constituem idolatria, e quais constituem uma adoração válida é um assunto de discussões por autoridades e grupos religiosos. É notável o conflito sobre o uso do termo no cristianismo, entre dois dos seus principais ramos, o catolicismo e oprotestantismo."

No Indyanismo, idolatra-se pilotos, idolatra-se ex-pilotos e idolatra-se os ex-pilotos que se tornaram chefes de equipe. Na verdade, no Templo de Indianapolis, toda idolatria é permitida, até idolatrar uma vertente das corridas de Indy sem pistas ovais. Eca! Excentricidades à parte, existe uma curiosidade latente nos fãs de Indy que quer saber quem é o piloto mais idolatrado pelos fãs da categoria nos dias de hoje. 


Em outras épocas, os torcedores da Indy podiam optar por Foyt, por Mario, por Rahal, por Rutherford, por Sneva, por Gordon JoãoPinto, por Rodger Ward, por Parnelli Jones, pelos Bettenhausen, pelos Unsers, por Mears, Fittipaldi, Michael Andretti, Alex Zanardi ou por Arie Luyendyk. Mas quando as aposentadorias começaram a se intensificar e quase todos os grandes ídolos do passado foram saindo das pistas, novos ídolos teriam que preencher os lugares da "velha guarda". 

Dessa forma, no começo da década passada, acompanhamos o surgimento de pilotos como Montoya, Hornish, Vasser, Helio, Kanaan, Bourdais, Tracy, Wheldon, Dixon, Dario, entre outros. Fosse na IRL ou na CART/CCWS, os substitutos para os antigos ídolos da IndyCar estavam, cada um a sua maneira, lutando no asfalto para ocupar um espaço sagrado no Reino de Indianapolis. Montoya seria o primeiro a demonstrar talento suficiente para ocupar o espaço para as futuras lendas. Mas logo a categoria europeia que não corre em ovais fisgou o colombiano que, após conquistar as 500 Milhas, direcionou seus esforços para a F1, afastando-se progressivamente do público indyanista.

Hornish durante o período de 2000 a 2007, e mesmo com o tricampeonato na IRL (2001, 2002 e 2006) e a conquista de 2006 na Indy500 - em um dos finais mais espetaculares de todos os tempos -, também não conseguiu concretizar a tarefa de se tornar um ídolo carismático que representasse a categoria. Sam preferiu direcionar sua segunda fase da carreira para os carros de stock e a Nascar foi o destino no qual mergulhou em um ostracismo irreversível.

Por outro lado, Dixon, que é tetracampeão (2003, 2008, 2013 e 2015), campeão de Indianapolis em 2008, o maior vencedor de corridas em atividade e o quinto maior vencedor da história da Indy fez tanto para angariar fãs quanto Bob Marley fez esforços para parar de fumar erva. Até hoje Dixon passa despercebido em qualquer aeroporto do mundo, a não ser que você seja parte da família de Scott. É o multi-campeão invisível! E o Dixon não tá nem aí pra isso, diga-se de passagem: essa é a filosofia desse anti-herói das multidões. Bandeira Verde, por exemplo, é um dos dez fãs brasileiros de Indy que torcem pelo Dixon!

Bourdais, que trilhava sua carreira por uma Indy com poucos ovais, é tetracampeão (2004, 2005, 2006 e 2007) da sanção CCWS e jamais andou bem em ovais longos como Indianapolis ou Pocono. Tem o carisma de um caramujo com óculos e cara de nerd com mão peluda. Mas o seu talento para mistos e pistas de rua ainda está agindo. Contudo, não foi suficiente para colocá-lo como um multi-campeão popular na Indy e capaz de herdar um lugar de destaque entre os fãs. 


Dario Franchitti chegou a ter uma grande base de fãs, principalmente depois que conquistou a terceira Indy 500. O piloto escocês, tetracampeão do campeonato da Indy em 2007, 2009, 2010 e 2011, campeão das 500 Milhas em três ocasiões (2007, 2010 e 2012) e um grande estudioso do automobilismo mundial teve sua carreira encerrada precocemente em 2012 e deixou o espaço de um multi-campeão popular vago e muitos admiradores do seu talento órfãos.

Mas e daí, se o atual maior campeão da categoria (Dixon) não consegue ser popular e todos os outros multi-campeões não conseguiram/conseguem atrair a torcida americana, quem hoje é o piloto mais popular da Indy? Seria o Helio que é veterano e campeão de Indianapolis em três ocasiões (2001, 2002 e 2009)? Quase. Helio também é muito popular, mas não o mais. O piloto mais querido, mais procurado, mais venerado, mais parado na rua no mês de maio é o baiano Tony Kanaan!

Você duvida? Assista a apresentação dos 33 pilotos das 500 Milhas desse ano e tire a própria conclusão de quem foi o mais aplaudido por mais de 350 mil pessoas. Tony Kanaan, através da história de superação que carrega na biografia de sua carreira conquistou o público americano mais do que Hunter-Reay, Marco Andretti, Graham Rahal ou Helio Castroneves. 


Em 2013, quando enfim a maldição de Tony acabou e ele esculpiu sua cara de Vin Diesel no Borg-Warner, houve uma comoção como nunca antes haviam visto no IMS. Na centésima edição, quando Tony assumiu a liderança ultrapassando o americano Hunter-Reay as arquibancadas quase vieram abaixo. Bonés, chapéus e mãos para o alto para louvar o pequeno brasileiro que não morreu e se fortaleceu. Que lutou e superou a si mesmo. 

Então, sem medo de estar com pachequismo, baseado unicamente nas imagens impressionantes dos feitos desse baiano, eu posso afirmar aos amantes de teoria da conspiração, aos desocupados que caçam capitalistas quando assistem um brasileiro perdendo alguma competição nos Estados Unidos, aos que tem complexo de vira-lata e choram com a falta de um ídolo brasileiro para torcer, para vocês eu digo: o ídolo maior de Indianapolis HOJE é o brasileiro Tony Kanaan, futuro prefeito da cidade de Indianapolis!

TK no Círculo da Vitória



segunda-feira, 6 de junho de 2016

O fim de semana quase perfeito para Conor Daly em Detroit


PERFEIÇÃO - Em qualquer categoria do automobilismo só existe quando o piloto vence a corrida. Não existe vitória quando se termina no segundo ou no quarto lugar. Perfeito é quando você recebe primeiro a bandeira quadriculada enquanto os demais comem os marbles dos seus pneus. Assim, pura e simplesmente assim é no automobilismo. Entretanto, tal regra não se aplica para quem corre pelos times anões da Indy ou de outras categorias. Nem para quem torce por eles.

No sábado, Conor largou em 16º lugar e com as magias do bruxo das estratégias, Dale Coyne, foi capaz de escalar o pelotão de carros e finalizar a prova apenas dois segundos longe de Bourdais, a outra surpresa da tarde de sábado durante a primeira corrida de Detroit. A KV não é tão pequena quanto a DCR, mas também não é uma potência como a trinca Ganassi/Penske/Andretti. Pelo que foi a corrida 1 de Detroit, com Pagenaud comandando as primeiras 40 voltas, ver Bourdais vencendo pela trigésima quinta vez na Indy foi especial. Agora o francês igualou o número de vitórias de Bobby Unser, mas continua atrás no número de poles: 52 para Bobby X 34 para Bourdais.


Voltando ao grande resultado da Dale Coyne, devemos olhar também para o fato de que não é a primeira vez que o time mais pobre da Indy tem boas atuações em Detroit, mas foi a primeira vez que Conor Daly conseguiu um pódio. E um pódio com a Dale Coyne é pra louvar de pé, indyanistas! Você tem noção da felicidade do rapaz? "Isso foi como uma vitória. Nem acredito que estava tentando ultrapassar Bourdais e me defendendo de Montoya. Eu costumava assistir esses caras!!!" afirmou um sorridente Conor depois dessa "quase vitória".

No domingo, para a Corrida 2 de Detroit, Conor chegou a fazer um tempo digno de largar em quinto ou sexto, mas foi punido por provocar uma bandeira amarela e perdeu, como diz no regulamento, seu melhor tempo. Com isso, Daly viu-se obrigado a largar na vigésima primeira posição. Desânimo? Melancolia? Não para o menino de Indiana que outrora sonhou ser Campeão de F1, até que um dia acordou desse pesadelo caro e duvidoso. Focado na Indy, como Rossi está tentando ficar, Daly assinou com a menor equipe da categoria e em sua sétima corrida com o time anão o garoto crava dois TOP 10 seguidos entre Penskes, Ganassis e Andrettis. Sinal da qualidade de Conor, evidentemente. 


Você montar numa Penske, largar em 21° lugar em Detroit e terminar em 6º é quase que algo obrigatório para qualquer piloto que estiver montado em um carro do Roger. Agora, você estar com um carro da DCR e ter esse mesmo roteiro é digno das mais altas reverências de qualquer espectador da Indy. Talvez se tivesse largado em quinto ou sexto o resultado de Daly fosse melhor, talvez outro pódio, talvez uma vitória, quem sabe. Mas, independentemente da hipótese construída, o fato é que começa a fazer diferença atrás do volante de um carro de Indianapolis o filho Derek.

Poderoso Will venceu a corrida 2, com o líder do Campeonato, Pagenaud, na sua cola. Essa foi sua primeira vitória na temporada 2016, mas quem brilhou mesmo em destaque total foi o garoto de Indiana no carro #18. Aos poucos a juventude americana começa de novo a trilhar o caminho da glória dentro da categoria mais rápida do mundo!

CORRIDA 1

CORRIDA 2

Newgarden deve ser o destaque no Texas, sua primeira vitória em pistas ovais está a cada dia mais próxima! Até sábado Indyanistas, e todos mandem um belo:

>>>>>>>FODA-SE TV BANDEIRANTES, O CANAL QUE MAIS IGNORA A INDY <<<<<<<<

O centésimo aniversário do maior espetáculo das corridas: Rossi conquista Indianapolis!



QUANDO ROSSI - Cruzou a linha de tijolos na velocidade de um carro de Nascar e Bryan Herta gritou no radio "Você é o novo campeão de Indianapolis, cara!" a vida de Alex Rossi desestruturou por completo. Nascia na sua consciência, em meio às lágrimas, o amor por algo que até três meses atrás não significava nada além de uma corrida insana, talvez, no máximo, apenas uma boa oportunidade para manter o piloto californiano em forma fazendo uma temporada completa no grid de uma das categorias de monopostos secundárias no cenário mundial do esporte a motor.

A gente sabe que a velha Indy já não é mais a mesma de outras Eras. O tempo não perdoa, ele também agiu contra a fama e a glória do oval mais famoso do Mundo. O tempo pro Templo também passou em alguns aspectos. Passaram bons e maus administradores tanto pelo autódromo quanto pelo campeonato de Indianapolis. Mas a magia de um centésimo aniversário reavivou a beleza dessa pista para os olhos de uma multidão/geração de espectadores nunca antes atingida na história das 500 Milhas. Mais de 350 mil pessoas entupiram as dependências do IMS e deixaram Doug Boles, presidente da pista, satisfeito com o trabalho realizado por seus funcionários.


Rossi, e isso não é segredo pra ninguém, jamais teve a Indy como foco para sua carreira. Propositalmente direcionou todos os esforços para conseguir um carro na F1. Ignorou qualquer possibilidade de ir para a categoria americana de monopostos que corre em ovais enquanto foi necessário, e, quando cogitou a possibilidade de competir por lá, sempre destacou sua antipatia pelas pistas ovais. Até poderia correr na Indy, mas não correria nos perigosos ovais da terra natal, afirmava há pouco mais de um ano atrás. 

Nós, seguidores da velha Indy (e não conto aqui quem tem fetiche por siglas de sanção), sabíamos desde cedo sobre a falta de interesse de Alex pela América. Inclusive essa falta de interesse de Rossi pela Indy gerou antipatia de muitos para com o rapaz sonhador quando este resolveu participar pelo time do Herta da Temporada 2016 da Indycar Series.


 Então, quis a Fortuna que fosse a tradicional imprevisibilidade dos 800km de Indianapolis o elemento diferencial que desfocaria de vez o foco da carreira de Rossi na F1 e o redirecionaria para o certame da Indy. Dias depois da conquista, questionado sobre a possibilidade de voltar para a categoria europeia que não corre em ovais, após se sagrar campeão da corrida mais importante dos monopostos, Alex foi enfático em dizer que agora seus olhos só tem foco para essa a velha coroa chamada "Indy" e sua temporada equilibrada. Era amor após a primeira 500 Milhas do garoto!

E foi com muito equilíbrio que a corrida 100 se fez durante pouco mais de três horas de duração. Desde o começo quando Hinch tomou a dianteira, até o fim, quando Rossi herdou de Muñoz a vitória que todos os pilotos da história da categoria almejam/almejaram, o maior espetáculo das corridas foi de fato a mais divertida corrida do ano no quesito suspense. Para alguns fãs, contudo, o resultado final foi uma injustiça monstruosa contra pilotos muito mais esforçados em construir uma carreira na Indy como Newgarden, Muñoz ou Rahalzinho. Para outros, foi uma história de sedução e traição; de atração e repulsão; de adrenalina e comoção. Para mim, foi aquilo que Indianapolis escolheu como enredo de sua festa de aniversário. Nesse Templo os deuses da velocidade comandam as peças do tabuleiro a mais de 380km/h!     


CURIOSIDADE HISTÓRICA: Em 1966, quando Indianapolis completou seus primeiros cinquenta anos, a lenda de Mônaco, Graham Hill, herdou de Jackie Stewart a primeira posição restando apenas 10 voltas pro fim. Hill corria simultaneamente o Mundial de F1 quando se inscreveu para sua primeira prova no oval retangular. Cinquenta anos depois, outro piloto novato em Indianapolis e inscrito tanto na Indy quanto na F1 volta a vencer as 500 Milhas de Indianapolis. Assim fica fácil saber quem será o vencedor da edição 150 das 500 Milhas de Indianapolis em 2066, não? Nos vemos lá, indyanistas!!!

CORRIDA COMPLETA