segunda-feira, 23 de maio de 2016

Anacronismo em Barber


E SE... - E se os chassis fossem  da Lola e da Reynard? E se os pilotos envolvidos fossem Michael Andretti e Jimmy Vasser ou Bobby Rahal e Al Unser Sr. ou Alex Zanardi e Gil de Ferran ou Cristiano da Matta e Paul Tracy? E se a corrida de Barber esse ano estivesse sendo realizada em Portland ou Cleveland, o que diriam vocês nostálgicos e amantes das coisas do passado?

Essa selvagem disputa na sinuosa e bela pista de Barber entre Pagenaud (do time grande, do time rico, do time forte) e Rahal (do time pequeno, do time fraco, do time pobre), depois de um domínio absoluto de Pagenaud por mais da metade da corrida, se fosse em outra época, com outros nomes, ficaria imortalizada na memória dos jovens que estivessem assistindo a batalha. No futuro, eles recordariam entusiasmados da habilidade do francês em voltar da grama e ainda vencer a prova como uma vitória de marca maior e rotulariam esse evento como ímpar em competitividade.

Sim, a nostalgia é sempre mais amigável com as coisas do Passado do que com as coisas do Presente. Percebo que falta aos fãs da categoria, antes de mais nada, prazer em ler a história de cada corrida que vai sendo escrita volta a volta (página por página, capítulo por capítulo) seja em mistos, ovais ou ruas. Os personagens da atualidade parecem desinteressantes, um é francês, outro é um australiano doido, outro é um veterano, mas cadê o Emmerson Fittipaldi? Cadê o Rick Mears? Cadê o Gil de Ferran? Cadê o Arie Luyendyk? Cadê o Raul Boesel? - Será a crise dos trinta, a crise dos quarenta?

Aos indyanistas batizados depois da cisão, eu vos pergunto:

- E se um dia ou uma noite um demônio* se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela? (Extraído do livro A GAIA CIÊNCIA de F. Nietzsche)


CORRIDA COMPLETA DE BARBER

*Demônio no sentido grego, não no sentido cristão do termo.

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