sábado, 25 de junho de 2016

A magia das pistas ovais (ou Crônica de um viciado em curvas só para a esquerda)

(Sete carros lado a lado em Pocono 500 de 2015)

ALÉM DO FALSO ESQUERDISMO - Eu falo em nome do verdadeiro radicalismo esquerdista, aquele nascido nos hipódromos de terra batida com os ginetes montados em seus pangarés de diversas raças disputando lado a lado as glórias que hoje não valem mais nada e são meras lembranças fotografadas, ou narradas, meras recordações mumificadas nos caixões das memórias onde jazem sem nós, no passado, heróis e espectadores. Entretanto, vem de lá nossa extensa obsessão por corridas em pistas com grandes retas e curvas só para o lado esquerdo, vem da tradição dos hipódromos americanos do século 19.


A luta que amamos assistir durante uma corrida em oval não se resume só a disputa de posição entre o carro do nosso piloto favorito e os carros dos seus rivais; o desafio assustador de controlar um carro de roda-aberta nas curvas dos super-ovais, desafiando os riscos da força centrífuga e da força centrípeta a mais de 370km/h e durante 200 voltas, é um dos mais deliciosos detalhes que movem nossa paixão no momento que estacionamos nossos corpos diante do televisor para assistir uma 500 milhas de Indianapolis.


Alegam os que carregam um desnecessário ódio mortal contra as pistas ovais que "virar sempre pro mesmo lado é fácil demais, quero ver ter a mesma habilidade para fazer a Eau Rouge de pé cravado". Blasfemam, intolerantes que são, contra as velocidades extremas dos traçados simples de Indianapolis, Pocono, Fontana e Michigan para louvar os supostos "templos verdadeiros" do automobilismo mundial, que, na verdade, atualmente, não passam de circuitos mistos clássicos recauchutados, adulterados e estuprados por arquitetos de mãos torpes, censurados por ditadores da segurança sem fim, traçados recortados para atender e satisfazer uma geração incapaz de aceitar as emoções que um traçado primitivo proporciona durante uma única corrida para 350 mil pessoas de corpo presente. 


Mas nós, os indyanistas que resistem, os adoradores dos malignos traçados ovais, nós amamos a sensação de tensão antes de cada largada no Texas Motor Speedway ou em Iowa. Quando a bandeira verde é acionada em Pocono ou Indianapolis uma cadeia de pensamentos surge na consciência do indyanista e as memórias de tragédias e superações do passado vão se misturando incessantes por mais de duas horas deitados sem riscos nenhum no sofá da sala ou diante de uma tela de PC ou Notebook. 


Sempre foi um tipo de corrida extremamente perigosa desde 1905 e, até hoje dentro do automobilismo, ainda são as corridas de Indy nos super-ovais as mais temidas para qualquer piloto profissional que guia carros velozes de qualquer estirpe. Quando alguém pergunta a um campeão de F1, tipo Vettel ou Alonso (como fez um jornalista recentemente por causa da centésima edição das 500 Milhas), a resposta costuma ressaltar como é perigosa uma corrida em oval e que o medo impede por vezes a tentativa.

Medo e angústia, suor e sangue, tragédia e glória, dor e prazer, todos os elementos da vida cotidiana correndo juntos no asfalto que separa e une vida e morte, o glorioso e o fracassado, o mito e o rookie. As histórias da Indy, em suas corridas nos super-ovais, ainda conseguem construir, em pleno 2016, uma narrativa elegante que só são encontradas nas tragédias gregas. 


A tragédia clássica deve cumprir, segundo Aristóteles, três passos:
- possuir personagens de elevada condição (
heróisreis, deuses),
- ser contada em linguagem elevada e digna 

- ter um final triste, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ao tentar se rebelar contra as forças do destino.


Os três elementos que a Indy HOJE tem de sobras!!!

Esqueçam Marx, o verdadeiro esquerdismo nasceu em Indianapolis!

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